05/10/2007
Haroldo Vinagre Brasil
Para ter acesso ao mercado de capitais e viabilizar seu crescimento, as empresas se vêem obrigadas a implantar uma governança corporativa. A chave dessa governança é a transparência no trato com os clientes, fornecedores, empregados, acionistas, governo e sociedade. Normas de qualidade e de proteção ao meio ambiente são também pré-requisitos para a inserção das organizações capitalistas nos mercados interno e externo. As mega-fraudes descobertas nos Estados Unidos forçaram uma maior padronização das demonstrações financeiras no sentido de inibir o caixa dois e toda operação que leve à sonegação fiscal planejada e ao desvio de recursos para fins políticos inconfessáveis.
Assim como esta acontecendo para as empresas, assim também para os paises e seus governos. Está cada vez mais difícil esconder informações para os cidadãos. O ciberespaço permeado pela rede aberta da internet, com acesso convergente em computadores e celulares, imprensa livre e banco de dados disponíveis on line, permite que se acompanhe a execução orçamentária e a evolução do patrimônio dos políticos.
A CPMF desvela a movimentação financeira dos cidadãos e qualquer desconexão suspeita entre renda e padrão de vida faz acender uma luz vermelha, que possibilita ao judiciário abrir acesso ás contas bancárias e as comunicações telefônicas de qualquer agente do poder público ou de empresário. A independência facultada ao Ministério Público e a profissionalização da Poliícia Federal, com esses subsídios legais, está infernando a vida dos criminosos engravatados. Estes bons mocinhos, antes imunes a quaisquer incômodos judiciais, estão sentindo na carne a pressão da sociedade para que prestem contas de seus crimes, principalmente na esfera política.
Denunciados, mesmo considerando que a legislação foi toda elaborada para protegê-los, o que impede um rápido julgamento e condenação, ficam eles desmoralizados aos olhos do povo e marginalizados pelos seus iguais. Além disso o Imposto de Renda, com base nos dados dos processos tem condições de aplicar altíssimas multas nos praticantes de caixa dois e na subseqüente lavagem de dinheiro.
Esta mutação na estrutura de comunicação da sociedade não tem volta e vem tornando muito alto o custo benefício das transgressões de colarinho branco. Não por conversão ética, mas por questões pragmáticas, certamente baixará, a médio/longo prazo o nível de corrupção hoje existente em nossa sociedade, se nos mantivermos atentos e usarmos todos esses mecanismos de transparência à nossa disposição.
Aquele gasto argumento de que “se todos praticam o crime, não há mais crime a considerar”, tornou-se, para dizer o mínimo, risível. Fica evidente a validez do dito popular para os ladrões da elite de que “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Ou a imprecação de Jesus com relação a falsidade dos fariseus, quando os chamava de sepulcros caiados.
Este quadro que descrevemos talvez venha possibilitar a implantação das tão necessárias reformas política e do judiciário, pois o crime de colarinho branco está cada vez mais não compensando, pelo alto custo que a sociedade lhe está cobrando.
Haroldo Vinagre Brasil é Engenheiro e Professor Universitário – e-mail: haroldovbe@gmail.com