E A FELICIDADE?

17/08/2010



Sérgio Cavalieri

Sérgio Cavalieri é presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa de Minas Gerais (ADCE-MG)

Viver não é preciso, decretou o poeta, não é exato, não é matemático. Envolve sentimentos, valores, princípios e percepções. A qualidade de vida das pessoas, portanto, não pode ser medida exclusivamente por um conjunto de fórmulas e indicadores econômicos como se faz quando se calcula o Produto Interno Bruto (PIB) de um país, índice que, de forma enviesada, representa a soma de todas as riquezas produzidas dentro das fronteiras nacionais. Essa é a premissa que caracteriza a nova sociedade do século 21, que privilegia a felicidade das pessoas no ambiente em que vivem, em que trabalham e em que se relacionam com outras pessoas.

O PIB, portanto, já não é mais o senhor absoluto de todas as verdades quando se mede o desempenho da economia de um país. Um PIB elevado pode não traduzir uma economia saudável, que cumpra o seu objetivo maior de proporcionar qualidade de vida e bem estar à sociedade. A partir desta constatação, outros índices estão sendo criados para complementar e abrandar a frieza das informações contidas no PIB – um deles é o Índice de Valores Humanos (IVH), de responsabilidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Com foco nas áreas da educação, saúde e trabalho, o IVH reflete as expectativas, sonhos, percepções e aspirações da sociedade, funcionando como bússola eficaz na definição e implementação de políticas públicas.

É um avanço em relação ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que contempla apenas três dimensões – educação, renda e longevidade -, e, assim como o PIB, se fundamenta em dados objetivos e matemáticos, que nem sempre mostram a percepção das comunidades pesquisadas. Não é objetivo, neste texto, discutir os números do IVH brasileiro, calculado e divulgado pela primeira vez este ano pelo PNUD, embora eles revelem a existência de dois brasis – o do sul/sudeste e o do norte/nordeste. Vale dizer: a realidade que o PIB brasileiro mostra nos últimos anos não é exatamente a mesma registrada pelo IVH.

Contradições como esta têm estimulado o surgimento de novos índices, que, assim, como o IVH, buscam suprir as deficiências e o cartesianismo do PIB. Um deles é FIB, índice que se propõe medir a Felicidade Interna Bruta da sociedade de uma nação. Trata-se de uma iniciativa do presidente francês Nicolas Sarkozy, apoiada por gente de peso, entre eles o economista Joseph Stiglitz, professor da Columbia University e Prêmio Nobel de Economia em 2001. Stiglitz justifica sua posição dizendo que não é suficiente apenas medir a produção da economia: é preciso medir também o bem estar das populações. Já o Índice do Planeta Feliz (IPF), criado na Inglaterra, leva em conta indicadores do grau de satisfação das pessoas, bem estar, expectativa de vida, bem como os impactos causados pela sociedade à natureza. Faz muito sentido: o IPF, por certo, seria capaz de mensurar os resultados negativos do desastre ecológico provocado pelo vazamento do poço da British Petroleum no Golfo do México.

Este, na verdade, é um debate que também mobiliza a atenção dos dirigentes cristãos de empresas, como fica explícito na Declaração de Cochabamba, divulgada em junho último ao término do X Simpósio que reúne anualmente o CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano e a UNIAPC-LA, entidade que representa as ADCE’s do nosso continente. A Carta é clara ao defender uma economia de mercado solidária, que incorpore as pessoas e faça com que a riqueza gerada pela economia, como mede o PIB, resulte no bem comum, beneficiando a todos os segmentos da sociedade, como propõe o IVA, o FIB e o IPF, especialmente em relação aos mais empobrecidos e excluídos. 

Ser empresário neste começo de século 21, e especialmente ser empresário cristão, significa compreender que o homem não será humano se não for irmão; que o capital humano é o primeiro capital e que as empresas são sociedades de capital, mas, antes, são sociedades de pessoas. Também significa promover e difundir na empresa o sentido da ética e o compromisso social, os direitos fundamentais, especialmente o direito à vida, à saúde, à educação e ao trabalho; a água, a terra e o ar, exatamente as variáveis consideradas em índices como o IVH e o FIB como essenciais à qualidade de vida do mundo contemporâneo e das gerações futuras.

Pode parecer um posicionamento ingênuo. Não é. O Índice de Valores Humanos e o Índice de Felicidade Bruta não se opõem à produção e nem aos índices tradicionais utilizados para medi-la. Cumprem, isto sim, a sempre oportuna missão de lembrar que o crescimento econômico não pode ser objetivo que se encerre em si mesmo e que, ao contrário, deve promover o desenvolvimento humano, atender às aspirações dos cidadãos, respeitar seus valores e princípios, gerando desenvolvimento sustentado, qualidade de vida e felicidade.

Fonte: Caderno de Opinião,  Estado de Minas – 17.08.10


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