ÉTICA E LIDERANÇA

28/09/2010



Sérgio Cavalieri

Fonte: Jornal Estado de Minas – dia 28/09/2010

Lucro não é pecado. Refiro-me, naturalmente, ao lucro sustentável, obtido de forma ética, limpa, por organizações que pautam sua gestão pelos valores e princípios da responsabilidade social empresarial. A explicação é necessária, pois na outra Ponta encontra-se a segunda posição possível – a que preconiza o lucro predatório, desprezando as pessoas e o meio ambiente, transformando organizações diversas, inclusive as empresariais, em máquinas de produzir lucro, a qualquer preço, independentemente das leis, da ética e de valores.

Da opção que fizermos agora dependerá o mundo que vamos construir neste século 21, para nós mesmos e para legar às gerações que virão. Como a trajetória e as opções das organizações se condicionam ao modo de pensar e de agir de seus dirigentes torna-se obrigatório refletir sobre os modelos de liderança compatíveis com a construção de um mundo melhor. Felizmente, este é um debate que avança com a mesma intensidade com que vemos nas manchetes de jornais e no horário nobre da televisão, exemplos chocantes de líderes negativos, de índole criminosa, tanto na esfera empresarial, com os escândalos corporativos, quanto na gestão pública, com a prisão de representantes dos três poderes, desde Brasília até os mais distan tes municípios brasileiros.

O debate sobre os modelos de liderança é universal e atemporal – ao longo de décadas, a ciência da administração estuda o tema e produz, em abundância, livros, manuais e cursos sobre a arte da liderança. No entanto, no caso específico do nosso país, apesar do progresso econômico, do aumento do PIB, da renda e da facilidade do crédito que catapulta o consumo e produz uma aparente felicidade, falta o progresso moral. A União Internacional de Dirigentes de Cristãos de Empresa – UNIAPAC, entidade que congrega as ADCE´s de 26 países, em praticamente todos os continentes, tem insistido na mensagem de que o ser humano só será feliz e plenamente realizado se alcançar o seu desenvolvimento integral – nos aspectos material, humano e espiritual.

Para que o Brasil se torne uma sociedade evoluída no seu caráter, honra e respeito, é indispensável que tenhamos líderes que transmitam bons exemplos, que pautem sua atuação por princípios, com coerência e consistência, que zelem pelo interesse coletivo, que garantam a relação equilibrada entre pessoas, entre pessoas e empresas, entre empresas e o poder público, entre todos o tempo todo. O oposto é igualmente verdadeiro: quando falta compromisso com valores e princípios, os líderes – executivos e dirigentes de empresas – se ocupam exclusivamente do cumprimento de metas de rentabilidade financeira; gestores públicos cuidam apenas do interesse próprio, sem se preocupar com os impactos negativos que suas ações causam às comunidades. Os efeitos devastadores da última cris e econômica ainda estão bem frescos, assim como os prejuízos causados a muitos, em todo o mundo, pela ganância de poucos.

Liderança deformada não se combate com novas regras e novas leis que, afinal, já existem e em profusão. A questão, evidentemente, tem o seu viés criminoso e policial, o que exige o cumprimento da legislação, com inquéritos na polícia e processos na justiça. O tempo, no entanto, tem mostrado que isto não basta, até porque a justiça é falha e vulnerável. É necessária uma radical mudança cultural dos líderes que precisam alterar o seu modelo mental e atentar para os valores do mundo moderno. Assim como se pensava, há algumas décadas, que alta qualidade e custo baixo eram incompatíveis, hoje fazer bem para o mundo e ter lucro não são excludentes. Ao contrário: somente alcançarão sucesso no campo empresarial e governamental àqueles l& iacute;deres que forem capazes de produzir, simultaneamente, rentabilidade econômica e social. Trata-se de uma questão coletiva e inexorável, pois todos têm exatamente a noção do certo e do errado, e a sociedade está cada vez mais vigilante, consolidando e propagando os princípios e valores que defende, cobrando dos líderes a sua observância e o seu cumprimento.

Em essência, devemos lembrar e entender que tudo começa em casa, nos limites familiares, onde os valores e princípios precisam ser semeados e adubados para que germinem e, à frente, formem líderes verdadeiros, comprometidos com o que deles exige o mundo contemporâneo. É preciso formar pessoas e organizações que não façam do lucro um objetivo em si mesmo, que entendam que o crescimento da economia só tem sentido quando é capaz de induzir transformações e promover a justa e equânime distribuição dos seus frutos.

A escola, em todos os níveis, incluindo aquelas que se dedicam a formar executivos e dirigentes, precisa compreender que, mais que atender a demanda dos clientes, muitas vezes equivocada, tem a missão de contribuir para a formação de líderes que se apóiem na ética, atuem com responsabilidade social e zelem pela democracia. Estes, certamente, serão os líderes verdadeiros e bem sucedidos, capazes de construir empresas relevantes e uma sociedade regida por princípios.


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