ORAÇÃO E TRABALHO

19/03/2008



Sérgio Cavalieri

Ora et Labora

 

A exortação Ora et Labora, um lema São Bento, tem um significado mais amplo do que a princípio se imagina e provoca reflexão e inquietação até os dias de hoje, mesmo tendo sido pronunciada há 1.500 anos. São Bento, que nasceu no ano 480 em Perusa, no centro da Itália, era de família abastada e por isto foi enviado para estudos em Roma. O Santo Abade logo se indignou com a vida de vícios e ócio da vida romana, retirando-se para local isolado onde começaria a construir sua história de oração, convertendo homens sem fé em cristãos seguidores do evangelho, e dedicando-se ao trabalho, sempre de maneira sistemática e organizada. São Bento teria sido a primeira pessoa a planejar o dia e a seqüência de tarefas, como viria a fazer séculos depois o sr. Henry Ford ao criar as divisões de funcões nas linhas de produção.

 

Dando um salto na história, e remontando ao início da década de 1960, empresários paulistas se articulavam para constituir a primeira ADCE – Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas, do Brasil. Na época, se reuniam no Colégio Santa Cruz, acolhidos pelos padres Dominicanos, sob o olhar atento do Padre Eugene Charboneau.

 

Passados meses de reuniões, planejamentos, ensaios, um dia o Padre Charboneau surpreendeu a todos e, em tom severo, pronunciou, “rezem e atirem pedras”. Este episódio entrou para a história e se incorporou ao DNA da entidade.

 

A ADCE reúne pessoas ligadas ao mundo empresarial, que colocam a dignidade da pessoa humana em primeiro lugar, que acreditam que economia e desenvolvimento só fazem sentido se beneficiarem todos os seres humanos. E defendem uma gestão cristã, na qual o lucro e o bem da sociedade são objetivos indissociáveis. Neste contexto, para o dirigente cristão, “ora” ou “rezem” significa fé, crer, ser otimista, persistir, acreditar que o dia de amanhã será sempre melhor, mesmo em condições de extrema adversidade.

 

É certo afirmar que sem fé não dá. Ela é a força básica, propulsora, seja na vida empresarial, seja no dia-a-dia de cada pessoa. Só a fé pode explicar a força interior que as pessoas conseguem arrancar de dentro de si, quando tudo parece perdido ou nos momentos mais difíceis. Semelhante comparação pode ser feita com empresários que preservam seus valores e sua conduta ética mesmo quando seus negócios estão naufragando pelo efeito deletério da competição desleal, da sonegação de impostos, contrabando ou pirataria, que lamentavelmente muitas existem. Ou ainda pelas dificuldades impostas por legislações tributária, trabalhistae burocracias anacrônicas, que oneram os produtos para os consumidores, e reduzem a competitividade do Brasil perante o resto do mundo.

 

Qual seria a grande novidade da segunda parte da frase “labora” ou “atire pedras”, como preferiu o padre dominicano, numa versão moderna do lema de S. Bento, já que a missão primeira do empresário é o trabalho? Aqui o conceito de laborar é mais abrangente. Segundo a visão cristã da responsabilidade social corporativa, trabalho e participacão são dois princípios fundamentais. O trabalho dignifica o homem e é por meio dele que as pessoas conquistam sua realização individual, profissional e material. O empresário, ao empreender, obtém essa oportunidade. Mas, ao mesmo tempo, a participação, o envolvimento em tudo aquilo que diz respeito à comunidade é um dever dos homens de negócios e uma forma contemporânea de contribuir concretamente no que a sociedade espera e necessita.

 

A participacão efetiva em sindicatos, entidades de classe, associações, movimentos de bairro, de igrejas, de forma gratuita, com espírito de doacão, são exemplos concretos de cidadania que acontaminam outras pessoas a se engajar na superação dos desafios que a sociedade brasileira enfrenta. Além disso, o envolvimento político, quer seja ocupando cargos públicos ou no acompanhamento rigoroso do desempenho dos eleitos, é postura que empresários e cidadãos comuns precisam incorporar e praticar para transformar a realidade do país. Não seria justamente esta disposicão de trabalhar e atuar com com ética, retidão de princípios e moral que estaria faltando para a sociedade? Eis o grito de guerra dos dirigentes cristãos modernos: oremos e laboremos com toda a fé, forca e destemor.

 

(artigo publicado no jornal Estado de Minas do dia 19 de março de 2008, coluna Opinião)

 

Sergio Cavalieri é Nascido em São Paulo, é formado em Engenharia Civil, Pós-Graduado em Finanças pela FGV e Vice-Presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da FIEMG. É, também, Presidente da ADCE.


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