Discurso José Guido Figueiredo Neves – Prêmio ADCE Minas de responsabilidade Social e Empresarial 2019

DISCURSO NA RECEPÇÃO DO PRÊMIO DA ADCE

José Guido Figueiredo Neves

            Antes das palavras que desejo pronunciar em agradecimento a esta grande honraria que recebo da ADCE, quero prestar uma homenagem a meu amigo e companheiro, Alberto Luiz Gonçalves Soares, recentemente falecido – empresário de fé, discreto, solidário, competente, firme, trabalhador infatigável, empreendedor de sucesso, de vida familiar exemplar – que foi o idealizador, fundador e primeiro presidente da ADCE-MG.

            A comunicação recebida do nosso Presidente Sérgio Frade e de sua Diretoria, informando-me que tinha sido agraciado com o prêmio “ADCE Minas de Responsabilidade Social Empresarial – 2019”, levou-me a fazer algumas ponderações ao Presidente, cuja resposta me deixou mais à vontade para receber esta honraria e compartilhar com tantos amigos e companheiros aquilo que, afinal, vem coroar uma história real de vida. Vida que, no meio de tantos tropeços, desafios e dificuldades, foi pautada nos ensinamentos cristãos que já recebi, no início de minha existência, na Ouro Preto natal, por parte da minha família profundamente católica, com meu pai, Engenheiro Civil e de Minas, José Zuquim Figueiredo Neves, e minha mãe, Vitória Caram.

            De meu pai herdei o gosto pela Engenharia, na qual me formei em 1957, na Universidade Federal de Minas Gerais, sendo chefe da turma de 1953 até hoje. A partir de então, toda a minha vida girou em torno de três eixos principais, além da convivência familiar: a atividade profissional, exercida na Construtora Ápia, após um período trabalhado em construção de estradas no vizinho Estado do Espírito Santo; e, por uma espécie de extensão, na participação em organizações classistas, como o SICEPOT – Sindicato da Indústria da Construção Pesada, em Minas Gerais;  em segundo lugar, na militância pela responsabilidade social das empresas, exercido por meio da ADCE; e, por fim, o terceiro eixo: o desdobramento das convicções cristãs, por meio de participação nos Cursilhos de Cristandade, no Movimento Emaús e, mais recentemente, no Centro Loyola de Fé e Cultura.

            Sempre fui homem de ação, de realizações e não de oratória, por isso me sinto um pouco desajeitado em verbalizar a trajetória de minha vida, como agora, o que me obriga a caminhar num campo que não me é habitual.

            Permitam-me, entretanto que, em agradecimento a este gesto de estima que presidiu à decisão de conceder-me esta comenda, compartilhe com os presentes alguns episódios de minha vida, não para me exaltar, mas para mostrar, na prática, que podemos, sim, alcançar coerência com nossas convicções profissionais, éticas e religiosas.

            Depois daqueles anos no Estado do Espírito Santo, a que me referi anteriormente, voltei para Belo Horizonte. Estava casado, desde 1959, com Ynede Pretti, grande e preciosa companheira, além de pintora, escritora e poetisa, com a qual tive cinco filhos, dos quais nos orgulhamos: Suzane, médica; Raquel, administradora; Eduardo, engenheiro; André, advogado e Marcos, administrador.

            Nessa ocasião recebi convite do economista Carlos Alberto Monte-Mor, fundador da Construtora Ápia, para, juntamente com outro economista, Roque Pretti, nosso cunhado, me tornar sócio da empresa, com o capital dividido entre os três em partes iguais, e cada um se encarregando de uma área específica, conforme suas qualificações e habilidades. Mas, como naquele lema dos Mosqueteiros, “todos por um e um por todos”, procurávamos sempre, mesmo atuando com toda a liberdade, chegar a um consenso, tendo em vista o bem da empresa. E foi com esse modelo de trabalho que estamos chegando, no mês de maio de 2020, aos 60 anos de existência, como uma empresa de médio porte em vários estados do País e atendendo como principais clientes Vale, DNIT, DERs, Votorantim, Copasa, Cemig, Nexa, Hydro e outros mais. Quanto esforço, dedicação, seriedade, competência e amizade entre nós esse tempo pressupõe!  

            Devagar e sempre: buscávamos um crescimento anual, ainda que pequeno, mas constante, aumentando o capital inicial e investindo na formação profissional de todos, atentos ao planejamento e à atualização constante nos procedimentos, especificações e normas técnicas.

            Mas, como sabem os empreiteiros do ramo da construção, tivemos que lidar com cartéis e políticos, nessa eterna apropriação privada daquilo que é público, além de conviver com governantes imediatistas, que não conseguem um mínimo de visão futura e de planejamento, até pela própria alternância no poder – o que provocava resultados aquém das possibilidades e êxitos intermitentes. Tal realidade nos levou, já em 1990, a adotar uma política realista e eticamente aceitável: manter a Ápia sempre competitiva; fazer o bem dentro e fora da Construtora, evitando todo proveito indevido; não trazer costumes censuráveis para dentro da empresa; e, finalmente, fazer o jogo da sobrevivência, quando indispensável para a sua permanência no mercado.

            A preocupação com o ser humano sempre fez parte do DNA da Ápia, o que nos levou, na consciência de nossa responsabilidade social, a adotar posturas, comportamentos e ações que promovessem o bem-estar do público interno e externo, nos lugares onde trabalhamos; e, mais do que isso, procurando a melhoria de vida de todos aqueles que são impactados pelos nossos trabalhos.

Aliás, em 1993 renovamos a direção da Ápia, com os sócios iniciais passando a conselheiros, enquanto a diretoria executiva era assumida por Ricardo Pretti Monte-Mór, Eduardo Pretti Figueiredo Neves e Paulo Campos,  medida que nos pareceu sensata e oportuna. Hoje, em 2019, o conselho se compõe de Carlos Alberto, José Guido, Ricardo e Eduardo e a diretoria executiva é exercida por Paulo Campos e Eduardo Menin Ferreira.

                        Nesse processo de crescimento e para diversificar a ação do grupo, decidimos também atuar na área imobiliária, criando a “Ápia Empreendimentos”, que, felizmente, já possui uma bela presença no mercado, dirigida por Felipe Pretti Monte-Mor e Marcos Pretti Figueiredo Neves.

                     Uma outra expansão do grupo foi a criação da “Drenar”, voltada para locação de Equipamentos. Com essas três empresas formamos o Grupo Ápia e somos hoje uma realidade forte, em situação honrosa no cenário da construção, mesmo no meio da crise econômica que se abateu sobre a nação.

            O segundo eixo da minha vida profissional e social pode ser considerado quase como uma decorrência da minha postura diante do mundo. Começo com a participação na entidade classista, no caso, o SICEPOT, quando fui eleito Presidente do Sindicato, sucedendo a Marcos Santana que, juntamente com José Salazar, havia buscado a experiência de Newton Cavalieri, Presidente do primeiro SICEPOT do país, o de São Paulo.

            Elegi-me com a intenção de fazer com que o SICEPOT, como um todo, adquirisse uma consciência de classe ampliada para a coletividade, zelando e trabalhando sempre pela prevalência do interesse coletivo sobre o das empresas em particular – no que, aliás, dava prosseguimento à linha de atuação da Diretoria anterior. Isso provocou uma tomada de consciência maior e uma resistência da classe a uma política governamental voltada para a cartelização, com comando único e absoluto no mercado.

            Dentro de nossa filosofia habitual, fortalecemos fortemente o Grupo de Relações Trabalhistas, buscando condições seguras para as empresas e uma convivência mais construtiva com a classe trabalhadora.

            Adquirimos uma sede própria, no Bairro Santo Agostinho, com muito esforço, é verdade. E, para resgatar a memória das atividades de nossa área de atuação, publicamos e distribuímos o livro Rumo ao Futuro – História da Construção Pesada em Minas.

            A lamentar que, daí em diante, a forma de atuar do Poder Público tornou ainda mais difícil o clima para a nossa especialidade.

            De um modo geral, considero que saí deste período mais maduro e imparcial.

            Ainda dentro do segundo eixo, necessito historiar e recordar a minha participação na ADCE – Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa. Como já deixei claro, desde jovem aprendi em casa e desenvolvi na minha vida uma vertente de responsabilidade social. Fez parte desse desenvolvimento a leitura de obras como Compromisso Social e Fé Cristã, do Pe. Fernando Bastos de Ávila, e outro do Pe. chileno Luis Alberto Hurtado (que foi canonizado por Bento XVI):  Sindicalismo, Humanismo Social e a Ordem Social Cristã. Santo Alberto Hurtado batalhou muito pela relação entre empresários e trabalhadores, ajudando na criação das Federações Patronais e de Empregados do país andino.

            Assim, em 1980, acolhi prontamente o convite do Alberto Luiz para, juntamente com outros empresários, refundarmos a ADCE-MG. Uma reunião em sua casa, com a presença marcante do Newton Cavalieri, Presidente da ADCE de São Paulo, constituiu a primeira Diretoria: o Alberto como Presidente, eu como Vice e Mário
Cenni, Carlos Alberto Monte-Mór e João Márcio Fillizola, como Diretores. E, em setembro de 1989, assumi eu próprio a Presidência da entidade, juntamente com Elmon Dinelli, Hamilton Soares, Paulo Almeida, Geraldo Moura e Nélson Furtado de Azevedo, nas demais Diretorias. Éramos, na época, apenas 84 associados, entre empresas e dirigentes, procurando alcançar o objetivo de atuar nas áreas social, sindical, empresarial e política.

            Um mês após, em outubro de 1989, com assistência e consultoria de Paulo Vasconcelos, elaboramos nosso planejamento estratégico, buscando o enfrentamento de quatro grandes desafios: “Onde estamos? Para onde vamos? Como iremos? Estamos caminhando”?

            Criamos uma coluna semanal no jornal Diário do Comércio, com o título: Isto é ADCE, por uma gentileza do Sr. José Costa.  Visitamos em torno de 20 empresas associadas, levando estímulos à humanização interna, divulgando a Doutrina Social da Igreja e estimulando os empresários a seguirem as orientações dessa doutrina.

            Com o apoio dos companheiros gaúchos, D’Amico, Percival Pugina e Padre Florindo Ciman, realizamos nosso primeiro encontro de formação e reflexão, com grande participação do associado Mário Oswaldo Sampaio.  Participamos, igualmente, de encontros nacionais, como o de Caxambu, MG, e realizamos vários outros encontros de reflexão, além de almoços e palestras mensais, com palestrantes convidados. De memória relembro que nos fizemos representar no Encontro Sul Americano das ADCEs, com um grupo de associados liderados por Elmon Dinelli.

            Finalmente, criamos a ADCE Jovem, com a preciosa ajuda do Roberto Mário Soares, com muito entusiasmo e esperanças.

            Hoje, em retrospectiva, sinto que poderia ter feito ainda mais naquela gestão, por ter tido, naquele momento, uma visão mais técnica e não tanto espiritual. Cheios de boas intenções, estávamos ainda meio perdidos, um pouco lentos, embora sempre buscando melhorar a eficiência. Aprendíamos também que nós, adeceanos, embora cristãos, ainda não éramos santos…

            A grande lição que me ficou desta fase de vida e da experiência com a ADCE, é que devemos ser sempre socialmente responsáveis nos negócios, pois, a partir de nossos valores podemos gerar mais valor. E que temos que lutar todos, sempre por um crescimento maior da representatividade da nossa ADCE, principalmente no mundo atual que está caminhando perigosamente para radicalizações políticas, sociais e religiosas.

            Tudo o que recordei aqui, a partir de minhas atividades empresariais, sindicais e adeceanas, tem uma espécie de alma que assegurou a busca de coerência em toda a minha existência: é o terceiro eixo a que me referi, e de que agora trato, por último, apesar de ser o mais importante. Refiro-me às minhas convicções cristãs que foram o impulso para me dedicar a muitos trabalhos.

            Quando havia chegado aos 40 anos de idade, 1973,  a convite do Mário Oswaldo Sampaio, Carlos Alberto Monte-Mor e eu participamos do Cursilho de Cristandade, e me recordo dos impulsos ali recebidos para mudanças, para a reafirmação da antiga fé, para dedicar-nos a acolher e ajudar, com todo entusiasmo e compromisso. Também participei, junto com minha esposa Ynede, do movimento Emaús, voltado para jovens de 18 a 25 anos, e tudo isso, evidentemente, influenciou em meus projetos pessoais, bem como no nosso comportamento na Ápia, nas relações pessoais e empresariais e na nossa administração. Graças a isso, continuamos com ótimo conceito junto aos funcionários, fornecedores, bancos, clientes públicos e privados e comunidades onde atuamos, como também órgãos federais, estaduais e empresas privadas de maior parte.

            Confesso que senti muita frustração e amargura, no início dos anos 90, pelas já mencionadas dificuldades, não resolvidas, nas relações entre público e privado. A conselho do amigo João Sabino, aproximei-me dos Jesuítas na busca de uma melhor espiritualidade, o que até hoje me tem sido de grande proveito. Em decorrência, participei da criação do Centro Loyola de Fé e Cultura, há 17 anos, do qual fui diretor e hoje sou conselheiro entusiasta. O Centro é voltado para o diálogo do pensamento cristão com o mundo cultural brasileiro e mineiro, oferecendo cursos de teologia e filosofia, com retiros, conferências e debates, ao longo do ano.

            Outra atividade a que me dediquei, sempre impulsionado por essa “alma” do cristianismo, foi a criação, em 2004, do Brechó da Construção, destinado a ajudar os empregados da construção e suas pobres moradias. Animei-me a isso após uma reunião com o Vice-Prefeito recém-eleito, Marcos Santana, e com Félix Moutinho. Juntamo-nos, então, com vários amigos de empresas construtoras, do SICEPOT, SINDUSCON, SECONCI, URBEL E MARISTAS e Ação Social da Igreja Católica. O Brechó, graças a Deus, teve grande repercussão e bastante sucesso. Recolhíamos materiais estocados e sem uso, em residências ou empresas, organizando-os e os encaminhando para famílias carentes, relacionadas pela URBEL. Conquistou pela CBCI – Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o primeiro prêmio de Responsabilidade Social, então criado.

            Interrompemos as atividades do Brechó após quatro anos, devido à iniciativa do Governo Federal de criar, na Caixa Econômica Federal, uma linha de financiamentos de material de construção para famílias de baixa renda.

            Terminando esta conversa, quase caseira, reafirmo que, em termos pessoais, continuo fiel a esses valores cristãos, procurando ser um homem de boa vontade, acolhedor, solidário, conciliador, aproximando as pessoas, tentando sempre ser um testemunho de fé ali onde o Senhor me colocar.

            Renovo meus agradecimentos às Diretorias da ADCE-MG, da ADCE Brasil, à minha esposa e filhos, noras e netos,  a tantos amigos que, como diz o poeta, “foram lanternas acesas no caminho da minha vida”: cito, entre outros, o Carlos Alberto e o Roque, o pessoal da Apia, os antigos e os atuais, e todos os que estão aqui presentes, trazendo-me grande alegria nesta confraternização pelo recebimento deste prêmio, do qual muitos deles são, muito apropriadamente, co-participantes.

            Encerro lembrando a parábola dos talentos que o Senhor nos contou, segundo os Evangelhos. Só espero que, quando comparecer diante dEle, possa receber o elogio dado aos que fizeram render os dons recebidos: “Muito bem, servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor.” Humildemente reconheço que, talvez, não tenha rendido tudo. Mas alguma coisa consegui realizar: não enterrei os talentos…


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